Nada, porém, do que aconteceu dentro e fora de mim, no Teatro Paschoal Carlos Magno, em Juiz de Fora, era passível de ser previamente imaginado. Primeiro, porque a mulher menina é um furacão. Quando ela pisou no palco com um estoque de energia de fazer inveja a qualquer companhia elétrica das minas gerais, logo pensei: não é só o coração que guarda selvageria. Tem mais coisa aí.
Minha vida que parece muito calma tem segredos que preciso revelar, não apenas para que deixem de ser o que são, mas para que possam também ser algo mais que um revelar-se. Em 2018, estive diante de um desafio gigantesco, talvez o maior da minha vivência nesta encarnação, que dilacerou a minha alma de forma extremamente severa.
Ao seguirmos solitários pelo labirinto em busca do sonho original, o extraordinário passa a fazer parte naturalmente da nossa rotina. Me preparava para dormir sem saber que, a alguns quilômetros de distância, Sofia Ramirez, experimentava, no mesmo instante, uma das histórias de amor, entre almas em dimensões distintas, mais bonitas que já ouvi.
Quando a notícia da morte chegou, eu estava bem em frente ao mar da Praia da Boa Viagem, em Recife. “Seu pai se foi”. A frase que, aparentemente, me exigia uma providência urgente, afinal, eu estava a 2.169,2 km de distância da mineira Juiz de Fora, onde o corpo de meu pai agora jazia na casa que ele e minha mãe construíram e dividiram por quase 58 anos, me paralisou por completo.
“Poetas, seresteiros, namorados, correi”. Assim diz Gilberto Gil na abertura de sua música “Lunik 9”, gravada em 1967. Assim repito eu, neste texto, para todos aqueles que têm sensibilidade e emoção: mesmo você não sendo poeta, seresteiro ou namorado, correi pra ver esse vídeo, “Laís e Antônio, 70 Anos”, que está no Youtube.